Carlos Malta e Pife Muderno

Foto por Maria Mazzillo

Carlos Malta & Pife Muderno, grupo fundado por Carlos Malta – multi-instrumentista, compositor, arranjador e educador carioca – em 1994, no Rio de Janeiro, há três décadas se mantém ativo e atuante como um
dos mais importantes e longevos projetos da música popular instrumental brasileira. Um sexteto minimalista, ritmicamente genial, formado por artistas excepcionais. 

Carlos Malta, Andrea Ernest Dias, Marcos Suzano, Durval Pereira, Bernardo Aguiar e Fofo Black.

Após 12 anos tocando com Hermeto Pascoal e Grupo (1981-1993), numa vivência de imersão ao lado do lendário músico, cujas pesquisas e experimentações exigiram uma dedicação exclusiva no desenvolvimento desse trabalho histórico da música universal – referência no mundo todo -, Carlos Malta pensou num grupo com uma formação completamente diferente, minimalista, e que tivesse o Pife (pífano) como protagonista.

Inspirado pelas tradicionais bandas de pífano do Nordeste e com exuberante criatividade, desenvolveu uma nova leitura para a performance destas bandas e, ao lado de músicos de profunda técnica e muito talento, criou um som único. Uniu os elementos da tradição a linguagens contemporâneas, do tribal ao urbano, com referências históricas que são o elo entre o jazz, a música afro-indígena e a MPB, e criou o Pife Muderno, um legítimo conjunto camerístico moderno e muito popular brasileiro.

Novas releituras dessa cultura popular hoje se multiplicam pelo Brasil em blocos e grupos de pífanos, muito por influência desse trabalho inovador de Carlos Malta & Pife Muderno.

O som é arrebatador, pela própria natureza e excelência de todos os artistas envolvidos. A riqueza rítmica do grupo, os arranjos, a liberdade musical, a interpretação, o repertório baseado na obra dos maiores representantes da música brasileira como Hermeto Pascoal, Edu Lobo, Luís Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Gilberto Gil, Caetano Veloso, envolve e contagia a todos.

É popular e erudito, é universal, ancestral, é puro jazz, música de câmara, é pop. 

Com 7 álbuns lançados, sendo  4 sobre a obra do mestre Gilberto Gil Em Gil, o Pife Muderno já se apresentou nos mais importantes palcos e Festivais do Brasil e no exterior, como Theatro Municipal RJ, o MIMO, Rio Montreal Jazz Festival, Forbidden City Concert Hall (em Pequim), o lendário palco do Carnegie Hall em Nova Iorque, todas a unidade do SESC que já receberam o grupo, e tantos outros.

2024 marca os 30 anos deste que é um dos grupos mais interessantes e entrosados que existem na cena da música brasileira, aclamado em palcos do mundo todo (EUA, Marrocos, França, Escócia, China).

Para celebrar a data emblemática, o Pife Muderno prepara uma turnê especial com o espetáculo É DU PIFE que reunirá os três principais trabalhos do grupo e o lançamento de um álbum baseado na obra de um dos maiores compositores desse país, Edu Lobo, que é um declarado admirador do trabalho de Carlos Malta, tendo batizado o grupo como uma “obra prima da música”.

PIFE MUDERNO: O LABORATÓRIO DE CARLOS MALTA

um quarto de século – completados em 2020 – que Carlos Malta explora os ecos do pífano num de seus projetos mais longevos e ambiciosos: o Pife Muderno. Grupo formado com fortes raízes na cultura do pífano nordestino, o grupo se mantém ativo e atuante como um dos maiores projetos da nossa música popular instrumental.

O quinteto formado por Carlos Malta (flauta/saxofone), Andrea Ernest Diass (flauta), Oscar Bolão (bateria/percussão), Marcos Suzano (pandeiro), Durval Pereira (zabumba) e Bernardo Aguiar (pandeiro) fez um show que impressionou não só pela configuração e pela dinâmica, mas também pelo rico blend que mescla o Jazz, ritmos tradicionais do cancioneiro popular e elementos da música contemporânea.

Com um repertório ousado que conseguiu dialogar com referências que caminham desde Gilberto Gil até Jackson do Pandeiro e Luiz Gonzaga, o sexteto mostrou um fino trato para trabalhar o balanço do groove sob uma ótica que enaltece os elementos regionais, sem passar nem perto do revisionismo.

Entre temas autorais e versões, a interação do grupo é talvez o principal pilar do som. Em dado momento, Durval e Bolão largaram seus respectivos instrumentos e fizeram um quarteto de pandeiros como se fossem uma sessão rítmica para a dupla de flautas de Carlos e Andrea.

O baterista Oscar bolão tirou um som absurdo de um kit minúsculo. Quando requisitado, ainda mostrou rara habilidade no triângulo e ainda gastou o couro do pandeiro com grande destreza. Durval Pereira se mostrou peça chave no contexto do som do grupo. É notável sua sensibilidade na zabumba, entretanto, sua percepção musical é que chama atenção, especialmente devido ao turbilhão de informações que é a cozinha do Pife Muderno.

A dupla Marcos Suzano e Bernardo Aguiar fizeram um trabalho muito interessante. Ao melhor estilo guitarras gêmeas, a dupla oferecia um contraponto aos grooves de batera de Oscar, respeitando o espaço da Zabumba, mas em plena sintonia com a dupla Carlos e Andrea.

Foi um show irretocável e que entre medleys surpreendentes deixou a plateia do SESC Consolação completamente perplexa em mais um dia de Instrumental SESC Brasil. Um dos grupos mais interessantes e entrosados que já assisti ao vivo, o Pife Muderno finalizou o set com “Pife de Prata”, nova composição do grupo em homenagem aos 25 anos de corre ininterrupto.

Ao final do espetáculo confesso que fiquei consternado, mesmo já tendo assistido o Carlos Malta em 3 oportunidades – uma delas ao lado do PRD Mais e outra com o projeto Duofel – mas dessa vez o negócio atingiu um novo patamar. Com um entrosamento quase telepático, Carlos toca com uma facilidade e uma liberdade exuberante.

Do alto de seus quase 60 anos o carioca mostra um ímpeto criativo fervoroso e que ao lado de um quinteto desse nível parece criar sem fazer nenhum esforço. O som é orgânico, brasileiro legítimo e enquanto o sexteto se divertia sob o palco, a plateia recebeu uma aula magna sobre referências históricas que são o elo entre o Jazz, a música indígena e o repertório da música popular brasileira.

Quando a última nota de “Pife de Prata” se dissipou, a única coisa que consegui pensar foi que se o grupo fez 25 anos e atingiu suas bodas de prata, meus ouvidos estão banhado a ouro depois de mais de 90 minutos de um som magistral.

Definir essa cozinha é difícil, porém, até mais complexo do que isso é prever o que o grupo fará sob o palco. Eles estão na ativa desde 1994 e enquanto Carlos seguir esculpindo o vento, nós aprendemos a reverenciar um instrumentista que é uma figura essencial para se compreender os rumos do groove nacional.

Foi uma honra maestro.

Por Guilherme Espir – São Paulo, fevereiro 2020.

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